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Supermáquina incrementará pesquisas
Parque computacional do Cenapad terá capacidade ampliada 25 vezes
A
expectativa de oferecer aos seus usuários o melhor equipamento
possível já é uma realidade no Centro Nacional de Processamento
de Alto Desempenho (Cenapad) de São Paulo, localizado na
Unicamp. É que nos últimos dias, com a chegada de uma supermáquina
ao órgão, a segunda mais poderosa do Brasil em importância
para ciência e tecnologia, terá aumentada 25 vezes a sua
capacidade computacional em relação à máquina que a antecedeu.
A iniciativa, possível
graças a um financiamento da Fapesp com dotação de US$ 1,35 milhão,
permitirá aos pesquisadores brasileiros contarem com um novo aliado
para o desenvolvimento de pesquisas de vanguarda. “Vivemos uma feliz
euforia, pois agora partiremos para um patamar mais avançado”, sintetiza
o coordenador-executivo do Cenapad, o físico Edison Zacarias da Silva.
A inauguração do novo parque computacional está prevista para este dia
13 de outubro, às 15 horas, no Cenapad.
Com
maior poder de processamento e de atender maior número
de usuários das mais diversas áreas do conhecimento que
necessitem da computação de alto desempenho, tão logo seja
apresentada ao público, a supermáquina estará liberada
para uso dos pesquisadores associados ao Centro. “Será
um outro diferencial, pois estaremos passando de 1.5 Teraflops
(Teraflops – trilhão de operações de ponto flutuante
por segundo) para 36 Teraflops”, considera o coordenador
do Cenapad. O equipamento põe em execução um processador
proprietário da IBM, Power 7, dos mais modernos que a empresa
dispõe no momento. A ideia, no entanto, é que o equipamento
anterior não deixe de ser empregado, o que agilizaria a realização
de novos trabalhos.
Conforme Zacarias da Silva, o que mais se comenta sobre
estas máquinas poderosas é o número de processadores. A nova máquina
possui 1.280 nós de processamento. Para se ter uma ideia, dimensiona
ele, 1 nó de processamento Power corresponde ao poderio computacional
de 3 nós de processamento zion, ou seja, o processador Power tem uma
capacidade três vezes maior do que os do tipo xeon, também muito
utilizados. Além disso, quando se fala que a nova máquina tem esses
1.280 nós de processamento, isso equivale a dizer que na verdade ela
tem 3.840 processadores convencionais operando em um único equipamento.
Outros
componentes ajudam a potencializar a capacidade da máquina
do Cenapad, como as seis placas GPU (unidade de processamento
gráfico) que, juntas, correspondem a uma performance de
6,18 Tflops. O supercomputador tem ainda uma arquitetura de
memória compartilhada, cuja proposta é otimizar o processamento
de dados e aumentar a sua velocidade.
Negociação
O coordenador do Cenapad admite poém que, para ter
sempre máquinas que exibam uma melhor
performance, elas dependem de financiamento, como
acontece com quase a totalidade dos projetos nas universidades. Para
conseguir equipamentos, são buscadas duas fontes de financiamento
principais: uma federal e outra diretamente nas agências de fomento à
pesquisa, em geral no Estado em que foi desenvolvida a investigação.
O primeiro
financiamento que o Cenapad da Unicamp alcançou para aquisição de
máquina aconteceu quando a Fapesp fez a primeira chamada de equipamentos
multiusuários, em 2005. Foi adquirida uma máquina da Silicon Graphics,
ao custo de US$ 390 mil. Este projeto redundou em grandes benefícios
científicos e tecnológicos ao país. Tanto é fato que em dois anos foram
desenvolvidos mais de 200 trabalhos científicos e um elevado número de
teses (foram produzidas 30 teses utilizando este equipamento – metade
de mestrado e metade de doutorado). De posse destes resultados,
solicitou-se da Fapesp renovação do projeto de reequipamento do Centro
de Computação do Cenapad.
Como os equipamentos de
computação perdem a sua atualidade e a sua capacidade muito
rapidamente, avisa Zacarias da Silva, de 2005 a 2009 eles já estavam
praticamente superados. “Entendemos que um caso de sucesso até aquele
momento poderia ser um fracasso se não houvesse um novo investimento.
Isso porque as pessoas, ao não terem opção de usar este equipamento,
procuram resposta em outras soluções”, explica ele. “Perde-se em
impacto institucional. Por isso, neste particular, a Fundação foi
sensível ao acolher o nosso projeto, destinando-nos uma soma
substancial.”
Em função dessa
conquista, o Cenapad chamou todos os fornecedores de equipamentos de
alta tecnologia e explicou-lhes que queria a melhor máquina que eles
tivessem. Zacarias da Silva estipulou a capacidade teórica de
processamento de uma máquina, projetando a compra de um equipamento de
22 Teraflops. “Ao final das negociações, conseguimos uma máquina de 36
Teraflops, superando bem a primeira estimativa”, comemora.
A capacidade
computacional proporcionada pelos novos equipamentos deve colocar este
sistema entre as 500 máquinas com maior poderio computacional no mundo.
O novo sistema deve figurar na próxima edição da lista TOP500, que sai
duas vezes ao ano. “O Cenapad-SP nunca esteve antes neste ranking,
mesmo assim ajudou muito a comunidade de processamento de alto
desempenho. O nosso foco é o atendimento aos usuários, porém aparecer
no TOP500 é um adicional interessante e que muito nos distingue”,
informa Zacarias da Silva.
Finalidade
O coordenador do Cenapad esclarece que, na sociedade
moderna, tudo o que se tem hoje em dia envolve algum tipo de
processamento. “Um novo carro é projetado através de um computador
antes de ir para a linha de produção. Os aviões modernos são
produzidos virtualmente num projeto de computação, para depois
entrarem em escala industrial”, expõe.
Na
Unicamp, as supermáquinas são utilizadas como auxiliares para o
desenvolvimento de pesquisas majoritariamente em nanociência, por
pesquisadores de todo país. Outras áreas também usam os computadores de
alto desempenho, como as engenharias, mas os pesquisadores das áreas
de física e química são maioria.
A pesquisa toda, que envolve uma ciência num mundo
microscópico, olhando as moléculas – como elas se formam e como é a sua
estrutura –, através dessas máquinas, permite que os pesquisadores
façam cálculos sofisticados e novos, muitos deles inclusive até com
capacidade preditiva, isto é, de prever novas estruturas, novos
fármacos e novos materiais que possam conter propriedades
interessantes do ponto de vista de descoberta, com uma pureza e com uma
condutividade maiores.
É um ganho para a Unicamp como um todo e para o Cenapad
em particular, salienta Zacarias da Silva. Neste ano, no Cenapad foram
atendidos cerca de 272 pesquisadores, que usam os equipamentos do
centro com regularidade. Destes 272, nem todos estão utilizando esses
equipamentos o tempo todo, mas estão cadastrados e podem usar os
supercomputadores. Neste momento, existem 118 projetos ativos de
pesquisa e desenvolvimento (P&D). Para alguém utilizar esse
sistema, ele tem que apresentar um projeto de pesquisa, o qual é
apreciado por um conselho científico.
Uma vez aprovado o projeto, o pesquisador recebe um
tempo de computação para utilizar esta ferramenta. Pode inclusive
usá-lo remotamente, do Amapá, do Amazonas, do Ceará e de outros
Estados, acessando o sistema de um terminal de computador. Eles entram
no sistema e podem submeter os seus trabalhos. Quando concluídos os
projetos, os pesquisadores recebem um e-mail informando que o trabalho
encerrou. O próximo passo consiste em conferir os resultados obtidos,
tudo feito a distância, o que facilita muito a consecução da pesquisa.
Produção
Os novos projetos poderão ser mais ambiciosos,
posiciona o coordenador, porque agora a capacidade computacional será
igualmente maior. Com esta nova máquina, também é de se esperar um
número maior de pesquisadores que antes não usavam-na, com um
significativo contingente de alunos de pós-graduação, com seus projetos
de tese.
O Cenapad integra o Sistema Nacional de Processamento de
Alto Desempenho (Sinapad) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT),
que congrega oito centros espalhados pelo país, e foi criado em 1994.
Em suas dependências, foram desenvolvidas 107 teses de mestrado,
utilizando o seu equipamento no período de 1998 a 2010, e 94 teses de
doutorado, somados a 815 artigos publicados em revistas internacionais.
“Então o Cenapad é uma referência no país em apoio a pesquisas que
usam computação de alto desempenho e agora, com esta máquina, poderemos
ajudar mais ainda a comunidade científica brasileira”, realça
Zacarias.
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